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As décadas pós segunda guerra mundial, nomeadamente a década de 50 e 60, são décadas essenciais na afirmação do design gráfico enquanto profissão fundamental numa sociedade que se move cada vez mais rápido a nível tecnológico, social, artístico e ideológico/conceptual.
Milton Glaser -nascido em Nova Iorque 1929- começou a exercer design precisamente no inicio década de 50 sendo uma referência “que exemplifica a transição entre duas eras, duas visões e dois modos de pensar”1: o triunfo do Estilo Internacional contrastado pelo retorno da expressividade do Pós-Modernismo.
Na década de 50, após a Segunda Guerra mundial, tanto os Estados Unidos da América (que prosperaram com a carnificina da mesma) assim como a Europa auxiliaram-se do design como ferramenta capaz de modelar e comunicar as novas normas sociais que estavam de acordo com as visões politicas e económicas do pós-guerra. As abordagens gráficas então utilizadas, caracterizavam-se pela racionalidade, funcionalidade e método: há claramente a predominância do Estilo Internacional que a meados da década de 50 vai ter o seu auge; quando as grandes corporações – que começavam então a aparecer – contratam designers para criarem as suas identidades e trabalharem ao nível do branding dos produtos da corporação. O designer passa nesta época de “mobilizador sentimental/político” (na década anterior, anos 40, o papel do designer era servir o estado, numa forma de propaganda) a criador de identidades e campanhas a nível mundial, sendo visto como uma parte essencial dos negócios.
Na década de 60 com a proliferação da televisão e da imagética a ela associada, e com o aparecimento da Pop Art, novos valores foram introduzidos na sociedade, relativamente à apreciação dos meios de comunicação gráficos.
É nesta súbita valorização dos mass media que a Pop vai basear a sua produção; o designer, consequentemente, vai desenvolver uma “autoconsciência” generalizada, baseando-se em ideais de anti-autoritarismo e não conformismo, identificando-se com o rock and roll, moda, drogas, sexo, ideais revolucionários, amor, paz, sangue e guerra, temas estes que eram “hip” e que caracterizavam a então assumida juventude dos anos 60, esta que passa a ter poder de compra, sendo o publico alvo das grandes corporações. É nesta época que começam a aparecer as subculturas (hippies, rockers, …) e ao contrário dos primeiros modernistas, que investiam em formas abstractas com significado transcendente, os designers “pop” assumem fetiches por ícones, objetos e imagens, contribuindo para a “narrativa mítica” da época.
Milton Glaser começou a exercer numa época em que a rigidez do Estilo Suíço era avassaladora, tendo encontrado nessa dita rigidez, a força motriz para mudar. Em 1955 funda a Push Pin Studio, que vai ser uma referencia visual e ideológica atemporal na história do design. Glaser propõe construir o design Pós- Moderno, apoiando-se essencialmente na história (os designers devem conhecer a história da qual não fazem parte mas que certamente irão fazer) como uma ferramenta teórica de máxima importância no desenvolvimento do processo criativo (e porque não recreativo?) e no desenho, como forma pura de pensar visualmente e de conhecer o mundo. Cores vivas, utilização de obras artísticas do passado e revivalismos, é o que caracteriza o trabalho deste autor assim como o seu ávido sentido critico e conceptual, sendo a sua inovação imagética a ruptura com o pensamento racional e mecanizado do estilo suíço.
Na entrevista com Heller, Milton Glaser caracteriza o design de “hoje” (1997) pelo o “adicionar de efeitos” através do computador e pela preocupação exacerbada da tipografia, enquanto que o principal foco deveria de estar primeiramente no conteúdo a transmitir e só depois na forma gráfica de como o transmitir.
É de salientar que 15 anos após a entrevista, e isto ter sido referido pelo autor, o pensamento do mesmo continua aplicável aos dias de hoje, dias onde a computação e o desenvolvimento de softwares roubaram muito da essência essencial do design (estrutura, conteúdo, forma e história) reduzindo-o à “criação” de coisas – e digo coisas pois muitos dos designers da actualidade não têm consciência daquilo que estão a criar, hoje qualquer pessoa pode ser “designer” desde que tenha acesso a um computador e à ferramentas adequadas- esteticamente aceites pelas massas. Criam baseando-se na moda da actualidade- ignorando a história do design e da arte e a critica, passando uma imagem errónea do que é, e para quê realmente serve o design.
Em modo de conclusão, e tendo em conta aquilo que os designers do passado, nomeadamente Glaser, fizeram em termos evolutivos e afirmativos na profissão eu pergunto, serão os designers do século XXI uns vendidos às modas? Será o design do século XXI, daqui a alguns anos uma narrativa mítica? Estaremos estagnados? Certamente.